Recentemente o espetáculo “Vem buscar-me que ainda sou teu”, de
Carlos Alberto Soffredini, foi encenado nos palcos de Guaçuí e mostrou uma cena
que era comum nos anos 70: uma solteirona (Dona Virgínia), encantada pelo teatro,
explica a Aleluia Simões, dona do circo, porque não fazia teatro e a visão da
família sobre quem faz teatro. Bom, não é preciso detalhar a classificação dada
pela personagem aos profissionais da área, na concepção da época, no entanto
ela acabou se rendendo a arte e fazendo parte daquela companhia ficcional.
Mas, passados 40 anos da
obra escrita, por mais moderno que seja o novo milênio, algumas pessoas e
instituições continuam com seu pensamento retrógrado, generalizando pessoas,
discriminando profissões. Atores e bailarinos sofrem na boca do povo, que
parece mais se preocupar com a vida alheia do que exercer o seu ofício, e pouco
produz, principalmente se quem fala atua também na cultura ou está envolvido em
determinadas religiões.
Há poucos dias, deparei-me
com uma cartilha de determinada religião que proibia seus fieis de frequentarem
teatro, pois é um “antro” de perdição. Também soube sobre opinião de
determinada pessoa com certa influência na cidade, dizendo que era um absurdo
que adolescentes fizessem aulas de teatro. Bom, o “pecado” pode estar em
qualquer lugar, entre os membros de uma igreja ou em outras profissões, não
poupando comerciantes, professores, escritores, advogados, engenheiros ou
qualquer
pessoa que seja. Vive-se hoje uma era de pessoas com mentes mais
abertas, capazes de enxergarem a igualdade dos gêneros, e as várias
possibilidades de uniões e se Deus criou suas leis, criou também o livre
arbítrio. Só ele pode julgar.
No entanto, o mais assustador
sobre essas opiniões, é que muitas vezes vêm de apoiadores da cultura; pessoas
que se dizem intelectuais e dentro de um ciclo artístico. Então, como a pessoa
pode ocupar determinados assentos se são hipócritas e discriminadoras? A
religião e a literatura foram feitas para unir, agregar, conscientizar e
acolher e não julgar por seus próprios meios, sendo ela elemento desagregador.
Ou então... é uma dor de cotovelo, usando a linguagem conotativa, por não ter
alcançado outros patamares.
O
Tratador de Estrelas
Seguindo a linha de que a
literatura pode agregar e não separar, Wilma Belfort, escritora do Rio de
Janeiro, produziu um belo texto para o jovem ator Fábio Aiolfi interpretar e
que estreia nos palcos de Guaçuí. Sua fonte de inspiração foi o texto escrito
há um pouco mais de 70 anos e o segundo livro mais lido no mundo, “O pequeno
príncipe”, do escritor francês Exupèry. As belas mensagens e personagens do
livro são condensadas no personagem Plínio que revisita sua vida e tenta buscar
novos caminhos. Quem já leu a obra vai identificar sentimentos e ações na
montagem, com referências de personagens como a flor, o geógrafo, o contador de
estrelas, a raposa, a serpente, o acendedor e o aviador.
As apresentações acontecem
em Guaçuí nos dias 05 e 06 de abril, às 20 horas, no Teatro Fernando Torres, e
depois segue para o Rio de Janeiro, no Teatro Henriqueta Brieba, também às 20
horas, no dia 10 de abril.