Conta a lenda que num reino não muito distante um
rei foi proclamado pelo povo disse que tudo faria pela cultura. O rei deposto
logo ironizou e disse que aquele rei só seria “da cultura” se fosse ela da área
agrícola. Esperto, o novo rei reuniu seus conselheiros e logo ordenou que todas
as obras interrompidas da área cultural fossem concluídas, e assim foi feito e
sua majestade se tornou um benfeitor da cultura em seu reino.
Mas o que é cultura? Genericamente a cultura é todo
aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a
moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem não
somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade como membro
dela que é.
Por outro lado, na visão do rei deposto sobre o novo
rei “cultivo da terra para a produção, e ainda hoje é conservado desta forma
quando é referida à cultura da soja, à cultura do arroz etc. “, conceito esse
vindo dos romanos com base na agricultura.
A cultura é também um mecanismo cumulativo porque as
modificações trazidas por uma geração passam à geração seguinte, quando vai se
transformando perdendo e incorporando outros aspetos procurando assim
melhorar a vivência das novas gerações.
No sábado, dia 14, após o recital poético de Markus
Konká, no Teatro Fernando Torres, uma senhora me abordou no final do evento e
confessou estar emocionada, isso porque relembrou o período em que o poeta
Antônio Carneiro Ribeiro escrevia e declamava suas poesias, hábito cada vez
menor entre as novas gerações Mas vi isso em Portugal, em Gaia, em julho, com
entusiasmadas senhoras poetisas, ou modernamente, poetas. E foi emocionante. No
entanto, a poesia está relegada a uma parcela menor, mesmo com tantas
tentativas de sarais espalhados pelo Brasil.
E sobre essas transformações na cultura, como foi
internamente a reação de jovens diante do universo de Beatles, a ser
apresentado no dia 21, no Teatro Fernando Torres, em duas sessões? Fala-se que
a banda inglesa é atemporal, porém as novas gerações estão ligadas às letras
fáceis, de refrãos melancólicos ou com palavras de baixo calão; correu-se o
risco de alguns torcessem o nariz. Entretanto, há uma leva de pessoas que tem
adoração a esse grupo, que atravessa inúmeras gerações; então mesmo que alguém
torcesse o nariz, o evento foi um sucesso.
E voltando ao teatro, o espetáculo guaçuiense
“Estórias de um povo de lá” foi selecionado para o Projeto de Circulação da
Secult e vai ser apresentado em seis cidades capixabas. Uma das melhores
produções do Estado, pretende encantar ao público pela obra mítica e também
atemporal de Guimarães Rosa. Em breve divulgaremos as cidades contempladas. E
para fechar, estive no período de 19 a 22 de setembro no Piauí, acompanhando o
Festival Nacional de Teatro da cidade de Floriano. Nosso estado esteve presente
com a montagem “A Culpa”, adaptação do texto “Carta ao Pai”, de Kafka, com
atuação de Luiz Carlos Cardoso (de Cachoeiro) e sonoplastia de Neuza de Souza
(de Guaçuí). Um bonito trabalho do Grupo Anônimos de
Teatro que foi aclamado pelo público.
Sendo a principal característica da cultura o
mecanismo adaptativo que é a capacidade que os indivíduos têm de responder ao
meio de acordo com mudança de hábitos, mais até que possivelmente uma evolução
biológica, os trabalhos citados buscam uma evolução cultural. Evoé!
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