A vida nos oferece a
possibilidade de realizar muitos sonhos. Alguns possíveis e outros nem tanto. E
a poucos dias do fim do mundo, peso na minha balança o que fiz e o que deixei
de fazer para que esses sonhos se realizassem.
O sonho de constituir uma família
foi concretizado. Esposa, casal de filhos, uma boa casa, um carro, e um
cachorro... vira-lata, na verdade, mas defendeu meu lar por mais de dez anos.
Segundo seu veterinário, um street-dog, já que lhe faltava uma raça específica.
A profissão também foi importante, não fui jornalista de graduação, mas exerci
a profissão durante anos. E naquela época, nos anos 80/90, a profissão estava
em alta.
Não consegui ser cantor,
dançarino ou atleta. No entanto tinha vontade de ser artista – virei ator,
diretor e autor de teatro. E com isso, pude viajar por muitos lugares e assim
concretizei outros sonhos de conhecer determinadas cidades do país, pelo menos
algumas capitais, até mais distantes como Belém do Pará.
Como pisciano, adoro o mar e
cachoeiras. A praia me fascina, as ondas, a areia, a preguiça de manhã debaixo
da sombrinha, a cerveja, o picolé e o bate-papo com os amigos nos verões de
Itaipava, em Itapemirim. As cachoeiras, bem essas ficaram no tempo de
adolescência, quando me refugiava no interior das fazendas que circundam
Guaçuí. Paisagens bucólicas que
procurava pedalando minha “magrela”, assim chamavam as bikes da época.
Mas o que posso fazer ainda a
pouco tempo do fim do mundo? Há sonhos que se tornam complicados de serem vividos
devido a inúmeros contratempos de ordem financeira e profissional. No entanto,
como o mundo vai mesmo se acabar e não vou voltar para sala de aula e nem para
os serviços do teatro, então seria o momento de conhecer a Grécia – para
desvendar os segredos da esfinge – ou visitar às terras de meus bisavós
italianos, a Ilha de Sardenha, na Itália. A história e a mitologia exercem em
mim um grande fascínio. E levaria comigo minha família, pois compartilham
comigo também esse desejo.
Antes, despediria dos amigos, dos
colegas de trabalho, e de todos familiares – mais de quatro dezenas, que quando
se reúnem numa confraternização de aniversário, parece mais uma grande festa. E
diria para eles: foi muito bom ter compartilhado tanto momentos maravilhosos, e
se o mundo não acabasse agora, faríamos mais festas, afinal tem semana com três
ou mais que é difícil conciliar agenda.
Como disse, sou de peixes e adoro
mitologia. E o que uma coisa tem a ver com outra? Nada. Mesmo sendo de peixes,
nunca fui bom em águas. Que Netuno me perdoe. Prefiro o ar. Dessa forma, no meu
último dia no mundo subiria a uma grande montanha, de frente para o mar, e
voaria de asa delta, lembrando Ícaro, o mitológico personagem. Então, pousaria
numa praia deserta e assistiria, ao lado da minha família, ao por do sol e o desaparecer
do mundo neste 2012, se possível ouvindo Bolero
de Ravel, plagiando a Casa Puebla, no Uruguai.
(Carlos Ola)
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