terça-feira, 11 de dezembro de 2012

ANTES DO FIM DO MUNDO


A vida nos oferece a possibilidade de realizar muitos sonhos. Alguns possíveis e outros nem tanto. E a poucos dias do fim do mundo, peso na minha balança o que fiz e o que deixei de fazer para que esses sonhos se realizassem.
O sonho de constituir uma família foi concretizado. Esposa, casal de filhos, uma boa casa, um carro, e um cachorro... vira-lata, na verdade, mas defendeu meu lar por mais de dez anos. Segundo seu veterinário, um street-dog, já que lhe faltava uma raça específica. A profissão também foi importante, não fui jornalista de graduação, mas exerci a profissão durante anos. E naquela época, nos anos 80/90, a profissão estava em alta.
Não consegui ser cantor, dançarino ou atleta. No entanto tinha vontade de ser artista – virei ator, diretor e autor de teatro. E com isso, pude viajar por muitos lugares e assim concretizei outros sonhos de conhecer determinadas cidades do país, pelo menos algumas capitais, até mais distantes como Belém do Pará.
Como pisciano, adoro o mar e cachoeiras. A praia me fascina, as ondas, a areia, a preguiça de manhã debaixo da sombrinha, a cerveja, o picolé e o bate-papo com os amigos nos verões de Itaipava, em Itapemirim. As cachoeiras, bem essas ficaram no tempo de adolescência, quando me refugiava no interior das fazendas que circundam Guaçuí.  Paisagens bucólicas que procurava pedalando minha “magrela”, assim chamavam as bikes da época.
Mas o que posso fazer ainda a pouco tempo do fim do mundo? Há sonhos que se tornam complicados de serem vividos devido a inúmeros contratempos de ordem financeira e profissional. No entanto, como o mundo vai mesmo se acabar e não vou voltar para sala de aula e nem para os serviços do teatro, então seria o momento de conhecer a Grécia – para desvendar os segredos da esfinge – ou visitar às terras de meus bisavós italianos, a Ilha de Sardenha, na Itália. A história e a mitologia exercem em mim um grande fascínio. E levaria comigo minha família, pois compartilham comigo também esse desejo.
Antes, despediria dos amigos, dos colegas de trabalho, e de todos familiares – mais de quatro dezenas, que quando se reúnem numa confraternização de aniversário, parece mais uma grande festa. E diria para eles: foi muito bom ter compartilhado tanto momentos maravilhosos, e se o mundo não acabasse agora, faríamos mais festas, afinal tem semana com três ou mais que é difícil conciliar agenda.
Como disse, sou de peixes e adoro mitologia. E o que uma coisa tem a ver com outra? Nada. Mesmo sendo de peixes, nunca fui bom em águas. Que Netuno me perdoe. Prefiro o ar. Dessa forma, no meu último dia no mundo subiria a uma grande montanha, de frente para o mar, e voaria de asa delta, lembrando Ícaro, o mitológico personagem. Então, pousaria numa praia deserta e assistiria, ao lado da minha família, ao por do sol e o desaparecer do mundo neste 2012, se possível ouvindo Bolero de Ravel, plagiando a Casa Puebla, no Uruguai.
(Carlos Ola)

Nenhum comentário:

Postar um comentário