O que esperar de um feriado no meio de semana, aliás dois
para quem é da “Vitorinha” capixaba? A gente fala que não vai viajar mais de
ônibus em viagem longa, mas para nosso desespero abre uma propaganda no instagram
e lá vamos para uma aventura em Morro de São Paulo, de quase 20 horas.
E se é de excursão, pode esperar tretas e se não as tem, não
tem graça. E a primeira vem de pressa,
pois no embarque já tem passageira reclamando que as poltronas não são leitos,
e que a mesma esperava leito total. Conversa vem, conversa vai... E o jeito é
subir para a parte de cima. Resignou-se ela, porém ia buscar seus direitos.
Assentados os passageiros, partiu o ônibus com sua
diversidade. Depósito de bebida lotado, mas com as garrafas ainda à espera da
temperatura ideal, o que não impediu a depois escassez da cerveja até o final
do trajeto. E havia os kits lanches, em que uma sacola não teve um fatídico
bolo, objeto de reclamações da galera do fundão, da famosa cozinha. E esta já
entoava dois cantos: o nome do guia (transformado em aeromoço) e um improvisado
coral ou karaokê. Para uns, forma de passar o tempo, para outros nem tanto.
Falando no guia, bom sujeito e fazendo de tudo para que a
viagem fosse agradável, ele teve seus imprevistos com o ônibus quase novo.
Microfone que não estava cem porcento, televisões sem aparelho de DVD para os
filmes previstos... E nisso não assistimos aos clássicos tão aguardados, entre
eles A Cabana.
A chuva caindo lá fora; o silêncio reinando depois da
primeira parada; e as idas ao banheiro (sem pulseira vip) devido às cervejas e
ao tempo sentados nas poltronas. E depois de longas horas, enfim Valência e a
junção do rio com o mar no atracadouro. Um sol tímido se anunciava no céu e já
era festejado.
O barco deslizava nas águas mostrando a bela paisagem: a ilha
e o farol, ao som do axé. A capitã do barco esbanjava a simpatia e a energia
típicas da Bahia. E para quem fizesse o passeio do dia seguinte com ela,
ganharia salada de fruta. A maioria do grupo, com passeio agendado tentou até
mudar os planos, o que virou uma pequena treta com a outra operadora. Por fim,
ao fim daquela mesma noite, tudo se resolveria com apenas alguns no passeio,
sem a capitã, em outro barco, e sem a salada de fruta.
A chegada na ilha foi da burocracia da entrada ao deslumbre
da pequena vila cheia de lojas e restaurantes e sua paisagem natural de grande
beleza. O cansaço da viagem já ia ficando para trás.
Na pousada a realidade dos degraus, principalmente para os
idosos do grupo. Há quem não gostou, há os que ignoraram e havia aqueles que
estavam ali para aproveitar, afinal o tempo prometia com a chegada do sol e o
show de “É o tchan”. E o guia ficava na loucura de atender os pedidos pelo
grupo do zap. A chuva retornou e cada um foi buscando o que fazer entre os
bares abertos e com música aí vivo.
Noutro dia:
café da
manhã e passeios. Fotos pipocaram nos grupos com os aventureiros em seus
passeios em barcos, caminhadas, praias, 4x4, bares... Cada qual sua maneira. O banho
de argila, o banco de areia, os bares e restaurantes renderam as poses
individuais e em grupos das mais inusitadas, pois afinal havia sol. O que
sucedeu nos outros dias nas lanchas, nas charretes, nas piscinas naturais.
Para quem foi ao show a dura realidade perceber que nossos
ídolos envelhecem e que o nosso joelho não acompanha nossa idade mental. E o
pobre coitado (ou coitada) entrega o jogo ao dançar até o chão, e quase não
conseguir subir. E teve ainda paqueras, ficadas, e a volta de barco táxi com
tudo balançando, inclusive o quarto depois na pousada.
E para quem não sabe, tem praia com cupido, e que é preciso
tirar os óculos para ver o amor se sua vida; com o perigo de morar naquele
lugar e virar empreendedora de cocada. Ainda bem que a pessoa olhou para o mar,
disse... Esse era o amor de todos, todos naquele momento, mas queria uma volta de
moto com o pretendente.
E os breves dias foram passando, com cantoria improvisada
debaixo das grandes sombrinhas, com cervejinhas e boas conversas em que a
neurociência acabou por revelar um cantor; novas amizades; tentativas de descer
a tirolesa, pôr do sol incrível, peixinhos atraídos pela cerveja; enfim o
paraíso era ali.
Mas tudo o que é bom tem o seu desfecho. Fim das diárias,
hora de voltar para a casa; e os carregadores das malas à espera. E saem
correndo pelas ruas estreitas na manhã de domingo. Os viajantes chegam ao cais
e barco já a esperar. E novas tretas surgem, pois uma mala danificou-se,
estresse... De quem é a culpa/responsabilidade... Chama o guia! E para piorar
ou tornar a viagem ainda mais inesquecível, algumas malas não chegam, e quase
iam para barco errado. Tensão, atraso, suspense... Chama o Guia!
Decidida a questão, todos atravessam o encontro do mar e o rio, e vão em
busca de suas vidas fora daquele paraíso, já a começar pelo ônibus, as filas do
restaurante e o seu trabalho no solo espírito-santense, expressão verdadeira e
esquecida dos que nascem no Espírito Santo, afinal antigamente só quem nascia
em Vitória, segundo a gramática da língua portuguesa, era capixaba. Mas o mundo
e as letras mudam, o que não muda é possibilidade de fazer novas e grandes amizades
numa excursão.